As Convergências Entre As Modernas Técnicas Psicopedagógicas Da Escola Humanista E A Terapia Holística

~ 0 min
28/06/2009 12:41

 As Convergências Entre As Modernas Técnicas Psicopedagógicas Da Escola Humanista E A Terapia Holística

 

Sidney Rosa Nascimento Junior - Terapeuta Holístico - CRT 44269

SINTE - Sindicato dos Terapeutas - Holística 2009

 

DEDICATÓRIA

  

A todas as pessoas crentes em sua missão como construtora da paz e de um mundo mais humano e feliz, aquelas e aqueles que já perceberam que, na medida em que cada um melhora, o mundo também se torna melhor.

   

AGRADECIMENTOS 

 

À Comunidade de Terapia Holística e toda equipe de SINTE, diretores, docentes e colaboradores que possibilitaram a realização e divulgação deste trabalho. 

Aos pesquisadores e pesquisadoras que acreditam e acreditaram na pessoa humana e na capacidade de cada um de se transformar e de gerar ambientes mais humanos com paz e prosperidade e ousaram publicar suas descobertas

Aos mestres Carl Rogers e André Rochais que ousaram pesquisar e acreditar na natureza positiva do ser humano, mesmo na contramão das críticas e dos paradigmas dos donos daverdade.

 A Maria de Lourdes Sávio, que me recebeu e me incentivou em um momento especial e me fez acreditar estar caminhando no rumo certo da minha missão, como profeta do desabrochar da Vida em Plenitude.

 

O ser humano traz no coração a certeza de que todas as pessoas são semelhantes... Tudo está aí neste subsolo da Humanidade, neste subsolo de homens e de mulheres deste planeta; tudo está aí para forjar um mundo mais humano (ANDRÉ ROCHAIS, 1980).

 

SUMÁRIO

RESUMO
INTRODUÇÃO
1 - Justificativa
2 - Objetivo Geral
3 - Objetivos Específicos
4 - Questão Norteadora 
CAPÍTULO I – METODOLOGIA 
ANTECEDENTES DA PSICOPEDAGOGIA HUMANISTA
1 - Por que psicopedagogia?
2 - Por que humanista?
3 - Conceito de Pessoa 
CAPÍTULO II – A PESQUISA HUMANISTA
1 – Contribuição de Carl Rogers
2 - Contribuição de André Rochais 
3 – Contribuições de Sávio e outros
4 – As principais linhas humanistas
CAPÍTULO III – DISCUSSÃO
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RESUMO

 

 

NASCIMENTO JUNIOR Sidney R. As Convergências entre as Modernas Técnicas Psicopedagógicas da Escola Humanista e a Terapia Holística. Brasília, Distrito Federal, 2009. Dissertação (Curso de Capacitação de instrutores EAD). SINTE – Sindicato dos Terapeutas.

 

Este trabalho tem por objetivo demonstrar as diversas convergências existentes entre as descobertas e técnicas Escola da pisicopedagogia Humanista e a Terapia Holística, dentro de um universo multifocal da pessoa. No Capítulo I é feita uma abordagem genérica a respeito da pesquisa realizada pelos autores descobridores e expoentes da pisicopedagogia humanista, com foco na pessoa como um ser integral. O Capítulo II se dedica a um resumo da fundamentação da pesquisa e dos esforços contemporâneos, consubstanciados através de publicações que retratam iniciativas, dificuldades e conquistas a respeito da educação e da terapia humanista. O Capítulo III traz uma síntese da pesquisa com conclusões do autor, nesse vasto território da pisicopedagogia humanista, tanto no nível do crescimento pessoal, como no trabalho junto a clientes.

Palavra-chave: Psicopedagogia humanista. Atividade centrada na Pessoa. Vida em Plenitude.

 

INTRODUÇÃO

 

              O objetivo deste trabalho é o de traçar um paralelo entre as descobertas da psicopedagogia humanista e a terapia holística. Há uma incrível convergência entre elas, como serádemonstrado, tomando-se por base o ensinamento e as descobertas dos mestres humanistas Carl Rogers (1961) e André Rochais (1985).. Como se sabe, a pesquisa humanista tem comobase a “Abordagem Centrada na Pessoa” e na “Escuta Ativa”.

O aprendizado e o crescimento se baseiam no “Aprender Fazendo” e no “Aprender a Apreender”.

Em resumo, pode-se dizer que esse trabalho é uma arte, que trata cada pessoa como única e integral e cujo resultado só se obtém pela prática, a semelhança de um esporte (só se aprende a nadar, nadando), como diz o próprio Rogers: “Para mim as descobertas são a suprema autoridade, reafirmada mais tarde por Rochais, nessa mesma linha, quando diz: “Meu grande mestre é aquilo que é real”.

Isso significa dizer que não há uma regra fixa, cada caso sempre será uma nova realidade e caberá à própria pessoa descobrir o que lhe vai bem ou o que está menos bem ou o que precisa ser mudado.

A figura do terapeuta, então, não será de um conselheiro e sim de uma espécie de farol capaz de iluminar os caminhos disponíveis e a ajudar no discernimento para onde seguir.

Por se tratar de uma escola novíssima, se contada pelo tempo da ciência, é possível que nem todos a conhecem ou estão prontos a vivenciá-la, já que para isso é exigida uma verdadeira mudança cultural na forma de se ver a sim mesmo e a pessoa humana como ser único e ao mesmo tempo relacionado com diversos elementos e circunstâncias.

É verdade que esta visão holística do indivíduo já é praticada pela comunidade do SINTE, entretanto, esse trabalho sugere uma navegação para águas mais profundas, sendo desejável a libertação de velhos paradigmas e das velhas amarras de grades de leitura e de eventuais discriminações, mesmo que inconscientes, com uma  irrestrita na capacidade de cada um crescer, enquanto existir vida.

 

1.1  Justificativa

O primeiro contato do autor com a linha humanista se deu no início da década de setenta, quando se encantou pelas descobertas de Rogers no livro “Tornar-se Pessoa” (ROGERS, Carl R. – On Beioming a Person, 1961). Logo percebeu uma tendência de outros pesquisadores e pedagogos em abarcar essas descobertas, tendo no Brasil, o pedagogo e filósofo Paulo Freire como seu principal seguidor e, em cuja estrutura, criou seu próprio método de alfabetização de adultos. Na década seguinte o autor se tornou amigo de um canadense e de uma brasileira que lhe apresentaram as pesquisas do psicopedagogo francês “André Rochais” e o seu fabuloso método denominado Personalidade e Relações Humanas - PRH. Outras referências a respeito desse método lhe foram chegando até que lhe foi possível iniciar seu aprendizado e formação, tanto pessoal, como em nível de relação de ajuda, fato tão marcante que se tornou uma das diversas referências de transformação da própria vida.  A partir de então pode resgatar a si mesmo, crescer na relação de casal, com os filhos e com a família mais próxima. Diante desse resultado tão eficaz e promissor não seria justo guardar só para si, já que poderá ser útil a outras pessoas, especialmente à comunidade do SINTE.

1.2 – OBJETIVO GERAL

Demonstrar as semelhanças entre as terapias humanistas e holísticas. Verificar quais as vantagens da influência da pisicopedagogia humanista, como contribuição ao trabalho profissional de cada um.

1.3 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Apresentar, em linhas gerais, a base da psicopedagogia humanista;
  • Descrever o método desenvolvido e atualmente aplicado por PRH – Personalidade e Relações Humanas.;
  • Apresentar fatores relevantes, resultante da prática humanista.

1.4  Questão Norteadora

Possibilitar aos colegas da comunidade holística um contato maior com a escola humanista, ainda embrionária em nosso país e cujos fundamentos poderão ser muito úteis no trabalho pessoal e profissional do dia a dia.

CAPÍTULO I - METODOLOGIA

ANTECEDENTES DA PSICOPEDAGOGIA HUMANISTA

1 - Por que psicopedagogia?

Na prática humanista há um redirecionamento da terapia convencional (diretiva) e focada no trauma, para uma postura de confiança na pessoa e na sua capacidade de crescimento e de autogestão da própria vida. Baseia-se na escuta ativa, sem grades de leitura ou preocupação com diagnósticos.

                            Sem querer fazer qualquer vínculo religioso, é interessante lembrar que Tereza d’Ávila, considerada doutora da Igreja Católica, já dizia no início do século XVI que:quando algo em nós está funcionando mal é porque alguma virtude está precisando crescer”.

Uma das principais descobertas de Rogers é a de que toda pessoa tem um núcleo essencialmente positivo ao qual chamou de “Self”. Dessa premissa partiram todas as suas teses, tendo como objetivo final levar a pessoa “ser o que realmente se é ROGERS, Carl R. – On Beioming a Person, 1961, pag. 37 e 146.

Ao contrário do desejo de muitos, que querem se livrar dos incômodos buscando uma solução psicoterapêutica como se busca uma cirurgia capaz de arrancar o mal pela raiz e, num passe de mágica voltar para casa completamente curados, na visão humanista, tal como na terapia holística, a pessoa é vista como um todo e o seu universo interior é único, portanto, não há soluções milagrosas ou rotulagem com diagnósticos tópicos.

Com esse foco, caberá só à própria, descobrir as causas (ou holisticamente, canalizar energias) e ganhar estatura emocional suficiente para então, ancorada em um porto seguro em si mesma, livrar-se dos funcionamentos indesejáveis.

Isso significa primeiramente que ela deve crescer em suas capacidades de gerir a própria vida, tomando posse de sua real identidade interior, formada pelas potencialidades, habilidades e capacidade de discernimento, livre e inteligente de si mesma.

Numa segunda fase, que se inicia de modo natural em decorrência do crescimento interior, é necessária uma re-ordenação da própria vida e uma re-educação interior compatível com sua estatura adulta e com maturidade.

Não é vazio o ditado popularizado no meio humanístico de que o princípio básico da loucura é querer que amanhã seja diferente, fazendo hoje as mesmas coisas de ontem.

É preciso haver uma quebra de muitos paradigmas, dogmas e princípios, talvez fundamentais para sobreviver no passado e hoje imprestáveis como um mero depósito de esqueletosfossilizados, atrapalhando as tomadas de boas decisões, principalmente quando se procura explicações ou justificativas no entorno humano ou material, para justificar o presente.

Somente depois dessas fases é que pode se dar início a cura interior, muitas vezes, sem esforço, numa conseqüência eficaz do crescimento e da reordenação da sua vida.

O processo se assemelha à cura de um ferimento na pele, no qual as novas células surgem de dentro para fora até a completa cicatrização. Muitas vezes, tal qual na terapia, uma intervenção externa, querendo fazer o caminho inverso, pode até agravar mais a ferida e atrasar ou dificultar sua cura.

É bem verdade que nem tudo será curado e poderão ficar seqüelas, aí sim entrará um processo de cura, mas apenas naquilo que impede a pessoa de viver em plenitude e ser si mesma.

Em resumo, pode-se afirmar que antes da cura é necessário todo um processo de crescimento e de re-educação.

Por isso, se convencionou o termo psicopedagogia, resultante da pedagogia intrinsecamente ligada à psicologia, visando o crescimento, a reeducação e a cura.

2 – Por que humanista?

O termo humanista foi introduzido na psicanálise na metade do século passado, tendo como principal patrocinador o psicólogo americano Abraham Maslow (1950). Entretanto, ele mesmo disse que a linha da psicanálise humanista não tem um líder isolado por ser fruto de uma descoberta universal.

Para não entrar numa exaustiva explanação teórica, é possível extrair para este trabalho alguns conceitos básicos do humanismo, assim resumido:

  1. Todo ser humano é capaz de decidir por si mesmo como conduzir adequadamente a sua própria vida, sem necessidade de paradigmas, rótulos ou intervenções externas;
  2. Quando isso não acontece, é porque o poder e a capacidade interior de ser si mesmo estão adormecidos ou inibidos. Maslow afirmava que:

“O homem seria um ser com poderes e capacidades amortecidos, inibidos. Adoecemos, não só por termos aspectos patológicos, mas muitas vezes, por bloquearmos elementos saudáveis. A impossibilidade de manifestarmos nossa criatividade e de atualizarmos nosso potencial como seres humanos realizados traria comoconseqüência a neurose”;

Pouco tempo depois, André Rochais também afirmaria algo semelhante, confirmando essa linha de descobertas:

“Dormimos sobre tesouros, sobre poços de energia, sobre um vulcão de criatividade, sobre reservas incríveis de amor verdadeiro”.

  1. Cada pessoa é única e possui identidade própria, entretanto há características universais comuns ao ser humano. O olhar humanista é o respeitoso ao direito de cada um ser diferente, dentro de uma unidade humana na diversidade de características individuais.

Em resumo, a visão humanista não segue a linha do pensamento dedutivo, com base em paradigmas, conceitos e princípios, ao contrário, ela é indutiva a partir das realidades interiores da pessoa, direcionando a ela todo foco de atenção, para ajudá-la, por si mesma canalizar suas próprias energias para o escopo da sua razão de vida. 

3 - Conceito de Pessoa:

Para alguns antropólogos, cuja tese foi abraçada pelo teólogo brasileiro Leonardo Boff, a humanidade surgiu junto com a formação da pessoa, colocando-se como marco inicial o momento em que o indivíduo deixou de utilizar o bando como objeto de ajuda para facilitar a caça e passou a repartir, sem disputa, os resultados obtidos.

Surgiu daí a refeição coletiva com base na empatia e nos laços interpessoais. Até hoje, em praticamente todas as culturas, a refeição é considerada sagrada e símbolo da acolhida hospitaleira e amiga.

Tem-se, então, que a base da pessoa está nas relações interpessoais, exemplificando: quando se diz mãe, implicitamente se estabelece uma relação com a existência de filho ou filha, bem como de um pai. Não poderia haver mãe sem filho.

O mesmo não se dá com as coisas, por mais cadeiras que possamos colocar em torno de uma mesa, jamais haverá uma família e cada objeto existe por si mesmo.

Alguém poderia levantar a hipótese de que no mundo animal também existem mãe e filhotes. Trata-se, entretanto, de linguagem figurada, porque não há os laços de afetividade e de amor gratuito. A relação no reino animal é gerada pelo instinto natural de conservação da espécie e não com o ingrediente da personalidade, como nos seres humanos.

Também, no mundo moderno, pode ocorrer a contrapartida da coisificação da pessoa, transformando a relação humana numa mera relação parasítica, tratando-a como objeto, que dura enquanto houver jeito de tirar proveito, como, por exemplo, chupar uma laranja, acabou o suco, joga-se o bagaço fora.

A relação da qual se trata na formação da pessoa tem fundamento na afetividade e no sentido de pertença, seja a pertença ao menor dos grupos ou à própria caravana humana.

Esta pertença e empatia fizeram que o ser humano cuidasse até de seus mortos, velando e sepultando-os com dignidade. É um sentimento profundo e universal, recentemente, num desastre aéreo com um vôo intercontinental, a preocupação dos familiares era a de encontrar os seus mortos para poder prestar as últimas homenagens.

Em resumo: tornar-se pessoa é implicitamente tomar posse de suas relações e desenvolver empaticamente a afetividade. Portanto, para a psicopedagogia humanista, de modo semelhante à visão holística, a pessoa não pode ser segmentada, há toda uma universalidade de valores interiores e um ambiente relacional a ser considerado. 

 

CAPÍTULO II - A PESQUISA HUMANISTA

     

 

1 – A Contribuição de Carl Rogers:

Rogers é considerado um dos principais expoentes da terapia ou da pedagogia humanista, por duas razões básicas:

- foi o primeiro a romper com a psicologia tradicional e demonstrar cientificamente a descoberta da pessoa como inata na gestão da própria vida, sem necessidade de qualquer ação diretiva externa;

- criou a técnica da Abordagem Centrada na Pessoa, hoje seguida por diversos pedagogos e terapeutas.

A pesquisa de Rogers sobreveio a um processo meticuloso de investigação científica levado a cabo por ele, ao longo de sua atuação profissional e concluiu que toda pessoa humana tem uma natureza essencialmente positiva, ao contrário da idéia reinante de que todo ser humano possuía uma neurose básica, defendendo que, na verdade, o núcleo básico da personalidade humana era tendente à saúde, ao bem-estar.

Definiu esse núcleo de energias e potencialidades como “Self” e que a ação do terapeuta consiste em ajudar o cliente liberar e canalizar essas forças para o seu benefício e crescimentocomo pessoa.

Andres_Rochais_100x141        André Rochais

(1921 a 1990)

 

2 – A Contribuição de André Rochais:

Muito embora, seu nome e seu meticuloso trabalho, especialmente no Brasil, sejam pouco conhecidos, André Rochais foi, sem a menor sombra de dúvidas, o maior patrono da escola humanista, o qual, influenciado e encantado pelas descobertas de Rogers, prosseguiu com as pesquisas na mesma linha e criou o método denominado “PRH – Personalidade e Relações Humanas”, hoje divulgado por PRH Internacional.

 

Rochais, como pedagogo, logo percebeu que a integralização da personalidade se passava pela autodescoberta da identidade interior (o self de Rogers), para tanto deveria haver um aprendizado sobre si mesmo, cabendo a pessoa desvendar os obstáculos que a impedem de ser ela mesma.

Seu propósito ia mais além, haveria de existir um método, de tal modo simples, que fosse acessível a qualquer pessoa, independente de credo, de condições sociais ou intelectuais, enfim, algo que fosse universalmente capaz de ajudar qualquer indivíduo e de fácil aplicação e aceitação.

Ele mesmo diz que para seguir suas intuições profundas seria necessário afastar-se um pouco dos grandes mestres de pedagogia e da psicanálise e assim dar mais volume as suas luzes interiores para permitir traduzi-las em atos concretos.

Com essa visão ele traçou um gráfico das engrenagens da personalidade ao qual denominou “Esquema da Pessoa”, inicialmente, com três instâncias, depois de simplificado e depurado, em 1985 assim definiu: o Ser, a Sensibilidade e o Eu-cerebral.  

 

O Ser: Para Rochais o Ser, à semelhança de Rogers, é essencialmente positivo e é o local da identidade profunda da pessoa, onde estão todas suas potencialidades, já despertadas ou não.

O Eu-cerebral: lugar onde funcionam a inteligência, a vontade e a liberdade.

A Sensibilidade: região que faz a interface entre todas as instâncias e é uma espécie de gravador das emoções vividas. Através do corpo se comunica com o mundo exterior: ambientehumano e ambiente material.

O corpo, no seu modo de ver, tem uma dimensão especial, o próprio esquema da pessoa foi desenhado tendo por base as hipotéticas regiões nas quais a pessoa parece viver esses funcionamentos.

O método de Rochais se baseia na “Escuta Ativa” e no “Aprender Fazendo”. A escuta ativa é condição presente em todos os trabalhos, especialmente na terapia, a qual ele denomina “Relação de Ajuda”. O aprender fazendo se realiza através de cursos formativos em pequenos grupos (máximo de 16 pessoas) e se prossegue na formação metódica de observação de si mesmo no dia a dia. Todos esses trabalhos têm como base a análise escrita, motivada de acordo com o tipo de curso a ser realizado ou pelo trabalho da ajuda individual.

Os resultados obtidos são surpreendentes. Atualmente foi divulgado um compêndio com a narrativa de diversos “cases”, ocorridos em vários países, com o título “Pour que la Vie Reprenne ses Droits”, 2003, (ainda, sem tradução para o Português).

O maior segredo do sucesso do método é deslocar a pessoa do tradicional funcionamento intelectual, onde impera e lógica, o saber, a imaginação e o fundamentalismo, em qualquer dimensão ou campo que seja, para sua vocação inata e alicerçada naquilo que a faz ficar segura de si.

Para tanto, Rochais observou que há três núcleos de consciências que regem a tomada de decisões da pessoa da mais simples à mais complexa:

  • Consciência-socializada: é adquirida através da influência dos ambientes vividos (costumes familiares, religiosidade, hábitos, regras e outros.). É uma forma da pessoa se adequar as exigências dos diversos grupos para ser aceita e reconhecida por eles. É considerada como a consciência infantil, porque é formada desde a infância, quando se exige que a pessoa viva presa aos outros e às regras, impostas de fora para dentro;
  • Consciência-cerebral: é a formada por princípios interiores e crenças pessoais. Ela surge principalmente na adolescência, quando a pessoa inicia um processo de contra-dependência familiar.

Por isso é considerada a consciência do adolescente, também aprisiona a pessoa aos seus próprios conceitos, tais como: “eu sou assim mesmo e não mudo”, “não levo desaforo para casa” e outros;

  • Consciência-profunda: é construída pela autonomia, leva a um constante discernimento entre o que bem ou ao que é menos ruim para o momento. É chamada a consciência da maturidade. As decisões baseadas neste nível de consciência produzem segurança e paz.

No pensamento de Rochais, tanto as instâncias da pessoa como os diversos tipos de consciências, funcionam em conjunto, ora predominando um, ora outro, dependendo da cultura, das circunstâncias e do vivido de cada um. Entretanto, a pessoa funciona em unidade, cabendo ao ajudante e ao método proposto ajustar e alinhar em trilhos essas instâncias numa direção de crescimento e de autenticidade.

Para Rochais, a pessoa só encontrará a plenitude quando viver de acordo com o seu Ser e guiado pela sua Consciência profunda. 

3  A Contribuição de Sávio e outros:

Maria de Lourdes Sávio, psicóloga e religiosa, foi discípula de Rochais e o acompanhou de perto nas suas pesquisas. Para ela são mantidas as instâncias da pessoa tal como definidas por Rochais. Entretanto, como religiosa que é, incrementou uma visão transcendente.

Para Sávio toda pessoa tem uma abertura natural à transcendência, não importa a denominação a dada, cada qual tem um modo de viver uma espiritualidade intrínseca.

Não há como frear essa abertura ao Absoluto, a não ser substituindo-o por bezerros de ouro.

A conotação do bezerro está ligada a imaturidade, o bezerro depende é totalmente dependente para sobreviver.

Remetendo-se à uma visão cristã, considerando que a pessoa foi criada a imagem e semelhança de Deus, há uma unidade trina internamente.

O Pai que tem a liberdade de criar, a inteligência de como fazer e a vontade de colocar em prática. O Verbo que pratica a ação, sente, se alegra e sofre, interage com o ambiente, traz para si as marcas, os estigmas do passado vivido, sente no próprio corpo a fragilidade humana. O Espírito que aponta caminhos, que desvenda virtudes, contempla e conduz à felicidade e a paz.

4 – As principais linhas humanistas:

Há duas principais correntes na linha humanista: a de Carl Rogers e a de André Rochais, com bases semelhantes, entretanto com métodos diferenciados.

Tanto numa como na outra é necessária uma nova visão da pessoa, como um ser integral (visão holística), uma abordagem multifocal, sempre centrada na pessoal e fundamentalmente uma mudança cultural radical do saber para o sentir.

ROGERS foi quem desenvolveu a Pedagogia da Relação de Ajuda com a lógica da Terapia Centrada na Pessoa. A ajuda na concepção rogeriana é concebida como uma relação na qual pelo menos uma das partes procura promover na outra o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida, ao reconhecer seus recursos internos. O que implica ver na pessoa suas potencialidades para se desenvolver e encontrar os meios para resolver seus problemas com autonomia.

Para Rochais a pessoa é construída pela solidez de seu Ser. Cabe ao ajudante fazê-la tomar posse do que reconhece e, ao mesmo tempo, ajudá-la a descobrir as potencialidades emergentes. A terapia ou a psicopedagogia (semântica melhor adotada por se centrar na re-educação e não nas neuroses) humanista se apresenta como um imenso campo aberto à pesquisa. O remédio acertado para um pode servir como veneno para outros, já que ninguém é igual ninguém e não existem pessoas incompletas ou segmentadas.

  

CAPÍTULO III - DISCUSSÃO

 

Como foi dito no início, a diferença entre pessoa e coisas é que tornar-se pessoa, significa, em suma, viver bem suas relações: a relação consigo mesma, as relações transcendentes e as relações com o entorno humano e material.

Se não há pessoa sem relações humanas, essas são a base da pessoa. São as relações vividas com o entorno humano e material que geram os comportamentos do presente, sejam os bons funcionamentos ou os que prejudicam o crescimento e as relações interpessoais ou com o entorno material ou transcendente.

Sem prejuízo da abordagem das demais instâncias (O Intelecto ou Eu-cerebral e a Sensibilidade), com foco na aproximação do Ser (ou Eu-essencial ou Eu-profundo), no qual se aloja as principais dimensões: as relações, a identidade profunda e a abertura à transcendência, pode-se representar graficamente o funcionamento ideal da pessoa com um triângulo eqüilátero, como na figura abaixo:

  • O equilíbrio é obtido quando há harmonia no crescimento das arestas;
  • A base da personalidade é estabelecida pelo modo de se relacionar com o entorno humano e material;
  • A verdadeira identidade, formada pelas potencialidades, habilidades e seus limites, caracteriza cada Ser como único; e
  • A relação com a transcendência, independente de qualquer crença, estabelece a direção do crescimento e o “eu mais o além de mim” e um agir essencial que dá sentido à vida.

 

Quando não se obtém essa harmonia ou quando a leitura realizada pelas outras instâncias distorce essa realidade interior, podem-se ocorrer várias hipóteses de funcionamentos desajustados, dentre as quais, selecionamos as mais extremadas:

    1. Crescimento das relações sem a contrapartida da identidade e da abertura à transcendência:

Nesse caso pela falta de crescimento da real identidade de si a pessoa pode sentir uma baixa auto-estima e um embotamento da verdadeira transcendência, direcionando sua vida em função dos outros, chagando até a poder viver uma fusão com alguém ou alguma instituição.


    1. Crescimento da imagem de si em detrimento das relações e da abertura à transcendência:

 

Nesse caso não há um crescimento da identidade profunda, devido à falta de ingredientes essenciais como o amor gratuito, a empatia e outros. Por isso o crescimento foi representado por uma linha pontilhada. A conseqüência dessa supervalorização de si é um egoísmo exacerbado, pouco se importando com as relações ou com a abertura à transcendência. São pessoas de difícil relacionamento e podem viver compensações para suprir as carências afetivas ou cair na depressão ou outras crises geradas por contínuas frustrações.

 

 

    1. Apego demasiado à transcendência em detrimento das relações e da identidade profunda:

 

 

Como no caso anterior não houve uma harmonia no crescimento e sim um apego demasiado a algo transcendente, por isso está representado com linha pontilhada. A conseqüência disso pode ser um fanatismo de qualquer ordem ou um fundamentalismo sem lógica. Os outros ou o crescimento pessoal ficam relativizados.

 

É uma árdua caminhada, não é fácil sair da robotização de que fomos levados a ser. Basta alguém importante apertar o botão “liga” e, provavelmente, lá estaremos agindo como máquina programada para repetir funcionamentos.

 

 

CONCLUSÕES

O trabalho, dentro de uma proposta humanista, tem um pano de fundo de ajuste à realidade. No Brasil se vive praticamente uma cultura de subsistência, diferente da realidade de outros países economicamente mais desenvolvidos.

Nesse contexto cultural é comum se relegar os cuidados profiláticos pessoais ou de grupos a um segundo plano, especialmente os voltados ao crescimento pessoal (priorizando-se a intelectualidade) e a ajuda psicopedagógicas, esta não raramente, confundida com fraqueza de caráter ou insanidade mental.

Toda mudança cultural necessita de um processo, geralmente demorado e com um dinamismo próprio. Por isso, é muito comum a procura da ajuda com a intenção de buscar milagres imediatos, como se o terapeuta tivesse um bisturi capaz de extirpar as dores produzidas pela vida, o que não é possível na visão humanista. O trabalho é sempre desafiante e longo e dependente da colaboração do cliente.

Caso contrário, a ajuda torna-se um mero local de desabafo ou de explanação de bravatas, sem qualquer resultado prático.

Pelo que foi visto a psicoterapia humanista tem muitas convergências com a terapia holística e vem para somar sem qualquer concorrência ou competição, haja vista a possibilidade de se trabalhar simultaneamente.

Alias, a terapia ou psicopedagogia humanista, no plano de fundo, está mais próxima da Holística do que da psicoterapia convencional.

Dentre as principais convergências, pode-se elencar:

  1. Uma visão holística da pessoa;
  2. A pessoa como ser único, com identidade própria;
  3. O corpo como expressão da sensibilidade, local onde se manifestam as tensões e conflitos;
  4. A canalização de energias para a vida em plenitude, desbloqueando e revelando suas fontes.

 

BIBLIOGRAFIA:

ROGERS, Carl R. – On Becoming a Person, 1961 – pag. 37 e 146;

ROCHAIS, Andre – La Personne et sa Croissance – Fundaments Antropologiques de Formation PRH – Publicado por PRH Internacional, 1997;

SÁVIO, Maria de Lourdes – Encontros Vida em Plenitude – Apresentação do Esquema da personalidade – 2ª Edição, 1990;

Diversos Autores  Pour que la Vie Reprenne ses Droits – Analyse de Cheminements de Croissance, 1ª Edição, 2003;

MEDNICOFF, Elizabeth - www.novoequilibrio.com.br – 2009;

WIKIPÉDIA - pt.wikipedia.org  Carl Rogers  Maslow – 2009.

                                         

Avaliaçãoo mídia: 4.5 (8 Votos)

Não pode comentar este artigo