Do culto do pênis fóssil ao rito da cópula do Sol com o útero úmido da Terra

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01/11/2016 11:49

Do culto do pênis fóssil ao rito da cópula do Sol com o útero úmido da Terra




 

Fernanda Carlos Borges
Terapeuta Holística
CRT 21058

 

 

 

creio que nossa cultura religiosa ainda venha a vencer no mundo moderno a gélida concepção calvinista, que faz da América do Norte uma terra inumana, que expulsa Carlitos e cultiva McCarty2

 ANDRADE. 1995 pg.163

     Um dos motivos da ruptura entre Reich e Freud foi a militância política de Reich, que acreditava que o capitalismo patriarcal estava comprometido com o sofrimento psíquico das pessoas. Uma transformação individual exigiria uma transformação social. Esta transformação remeteria ao modo de vida de algumas culturas pré-patriarcais, apoiadas em outras instituições sobre o corpo.

     Reich (1977) fez uma declaração significativa: “Freud concordava comigo com relação a princípios. Mas quando se chegou a casos concretos, tais como atacar a atitude compulsiva da família, a organização da família, ele insurgiu-se contra mim (...) ele não aceitava o que a saúde sexual implicava, o ataque a certas instituições que se lhe opunham” (pg.86).

     Do mesmo modo, lembra que “Freud era muito favorável à nova legislação da Rússia, apesar de um pouco hesitante quanto às facilidades de divórcio e aos seus efeitos sobre a família. Era bem claro para mim que ele se sentia constrangido a esse respeito. Ele queria libertar-se do seu próprio casamento. Mas não conseguia (...) Freud era uma mistura curiosa de espírito aberto e de um senhor professor de 1886” (pg.44).

     Surpreendentemente, a Filosofia da Devoração de Oswald de Andrade tem muita afinidade com o pensamento de Reich, embora não haja nenhuma evidência de que Oswald o tenha lido. A aproximar os dois pode ajudar a situar o trabalho reichiano por aqui, entre nossas forças culturais, históricas e utópicas.

     Para Oswald, as forças culturais que nos envolvem correspondem ao futuro para o qual apontam as aspirações da humanidade desde as primeiras utopias que antecederam ao Renascimento.

     Este futuro não é capitalista.

     Para Oswald de Andrade (1992), nossa vocação histórica está apoiada em vestígios de uma weltanschauung das culturas pré-patriarcais, que deve ser recuperada.  Muitas destas culturas eram antropófagas, entre elas os tupi-guaranis, nação indígena guerreira que ocupava a maior parte do território que viria a ser o território brasileiro.

     Não se trata de uma volta ao passado, tal como ele foi com os seus rituais antropofágicos, e sim do fato de que “a antropofagia fazia lembrar que a vida é devoração opondo-se a todas as ilusões salvacionistas” (pg.231). A ilusão salvacionista é característica da cultura messiânica, que se confunde com o patriarcado e com a história.

     Sua característica é a centralização do poder e o dualismo hierarquizado: o senhor é diferente e superior ao escravo; a mente é diferente e superior ao corpo; o espírito é diferente e superior à matéria; o homem é diferente e superior à mulher; o intelecto é diferente e superior aos sentidos; o adulto é diferente e superior à criança; o bem é diferente e superior ao mal; etc.

     Neste dualismo, a parte inferior deve ser dominada ou eliminada, não tem direito à autonomia, sua diferença é medida ou pela insuficiência: a mulher é “não homem”; ou pela oposição: a mulher é “contra o homem”.  

     Numa cultura antropófaga, tal como Oswald a entendeu, a diferença é afirmada na sua autonomia: o inimigo pode ser atacado enquanto é uma ameaça, mas também deve ser comido, porque tem um valor próprio. Bastante diferente da concepção desenvolvida no messianismo ou impérios despóticos salvacionistas, pois “nestas circunstâncias, o inimigo deixava de ser visto como o objeto de saque do guerreiro vitorioso para ser tido como o ímpio, cuja só existência já ofendia a Deus” (RIBEIRO. 2000 pg.99).

     Portanto, a questão básica trazida por Oswald de Andrade é uma questão de natureza ética.

     A síntese destas culturas, antropófaga e messiânica, consistirá na recuperação de valores matriarcais com um alto nível de desenvolvimento tecnológico, que ele chama de retorno do primitivo tecnizado, ou matriarcado tecnológico: “de Morus a Campanella até os nossos dias, a humanidade insiste, sem saber, em se matriarcalizar. Todas as chamadas lutas pela liberdade não passam senão de episódios da guerra contra o regime da desigualdade e da herança, imposto pelo Direito Romano e sagrado pelo Cristianismo” (ANDRADE. 1995 pg.200). Edgar Morin (1973) observa: “pode ver-se que e a evolução do homem não está necessariamente ligada à história, e pode-se, portanto, imaginar a possibilidade de uma evolução meta histórica, quer dizer, de uma evolução que se efetuasse, certamente com desordem, com incerteza e com ruído, mas sem furor” (pg.186). 

     Atlan (1992) fez uma crítica a Edgar Morin a respeito da minimização do papel do pai como característica da sociedade pós-histórica, que implicaria no equívoco da diminuição da complexidade. O aparecimento do pai na vida da criança humana interrompeu sua relação unívoca com a sociedade, instalando a oposição e a contradição, porque dois indivíduos antagônicos passam a representá-la. A família aumentou as possibilidades de combinações nas relações sociais, tanto da ordem dos acontecimentos quanto da representação. O Pai é decisivo na internalização da independência/autonomia como fundamento constitutivo do indivíduo, decisivo, portanto, para o desenvolvimento da complexidade (pg.179).

     Mas o retorno ao matriarcado não corresponde necessariamente ao retorno a uma sociedade com baixo nível de complexidade, o retorno de um matriarcado tecnológico aceita a presença do Pai, mesmo fora do patriarcado. O desenvolvimento da tecnologia tem correspondência com o desenvolvimento do nosso sistema sensório-motor, desde as primeiras machadinhas e cestos até o computador.

     O sistema de equilíbrio pode ser identificado com o pai, ele é o fundamento básico da Lei: porque nenhuma ação pode fugir das condições do equilíbrio do corpo, e o corpo sempre é um corpo situado. As leis do sistema de equilíbrio são radicalmente existenciais, nele se elaboram e sustentam as posições, as atitudes e modo de interação com o mundo.

     É o Pai “que garante a adequação do meu equilíbrio a cada instante (...) ele me protege e defende, me permite lutar para conseguir aquilo de que necessito, fugir do que me ameaça, fluir no que me apraz. Este é o ‘pai bom’; há o mau também. A fim de me manter ereto e carregar continuamente meus 70 quilos, faço bastante força, sinto-me oprimido e cansado, despendendo muita energia, sinto bem meus limites e servidões” (GAIARSA. 1988 pg.127).

     Portanto, a idéia de um matriarcado tecnológico adquire uma força simbólica inusitada.

     A extrema verticalidade, que caracterizou o patriarcado, levou ao desenvolvimento de uma tecnologia comprometida com um ideal transcendental dominador, que vem submetendo a Terra Mãe até a eminência da catástrofe ecológica, da destruição da terra e da auto-destruição humana. A civilização messiânica submeteu a mãe ao pai, Eros a Tanatos, a vida singular à máquina universalizada – cristo pregado na cruz!

     O Pai foi aprisionado aos sistemas sistemáticos de reprodução em série.

     A Mãe está ligada à terra e à gravidade, como percebe Gaiarsa (1988): “a terra pode nos aparecer ou ser apreendida como ‘mãe boa’ enquanto nos apóia, carrega, suporta e agüenta; é então útero e colo. Mas enquanto trabalhamos para permanecer em pé contra ela, então ela é ‘mãe má’ que nos ‘atrai para baixo’ , para a queda, a decadência, a desistência, a degradação” (pg.127). É o acerto entre o Pai e da Mãe a garantia da harmonia do movimento e do acerto das nossas ações, porque “o pai é o centro de impulso, a mãe é o centro de gravidade – ou de inércia” (pg.127).

     O retorno do matriarcado tecnológico pode ser antevisto no que Edgar Morin (1973) chamou de mitos anunciadores da hipercomplexidade: democracia, socialismo, comunismo e anarquia, “que se referem todas ao mesmo sistema ideal: sistema fundado sobre a intercomunicação, e não sobre a coerção, sistema policêntrico e não monocêntrico, sistema baseado na participação criativa de todos, sistema fracamente hierarquizado, sistema que aumente as suas possibilidades organizadoras, inventivas, com a diminuição das suas restrições” (pg.187). É possível dizer que estes mitos anunciadores estão comprometidos com a síntese de um grande movimento dialético, já antecipado por Oswald de Andrade (1995) como uma vocação da cultura brasileira no destino do mundo. A tese corresponde às antigas sociedades pré-históricas matriarcais e a antítese corresponde ao desenvolvimento histórico do patriarcado.

     Estaríamos vivendo um tempo em que “o homem, animal fideísta, o animal que crê e obedece, chegou ao termo do seu estado de negatividade, à portas de ouro de uma nova idade do ócio” (pg.144), que ele chama de retorno do primitivo tecnizado, ou matriarcado tecnológico.

Então, qual é a nossa posição?

 

     Roberto Gomes (2001) acredita que no Brasil se desenvolveu a idéia de que um “espírito aberto” é aquele capaz de assimilar “o melhor” de cada teoria. A influência do ecletismo teria levado à dissolvência de posições, indiferenciação e esterilidade intelectual.

Ele repara que, mesmo que se queira aproveitar ‘o melhor’ de cada teoria, é preciso estabelecer quais critérios para fazê-lo, para escolher este ‘melhor’. E este critério não estaria claro.

     Oswald de Andrade desenvolveu estes critérios, que favorecem a elaboração de uma posição capaz de sustentar um pensar e um modo de vida inclusivo, diferente da exclusividade messiânica. Os critérios da devoração são influenciados pela seguinte posição inspirada na vida indígena:

  • a perspectiva de um sistema social sem a exploração de classes;
  • a superação do sistema patriarcal através do retorno ao matriarcado num elevado nível de complexidade;
  • o desenvolvimento tecnológico a partir desta perspectiva; a percepção do inimigo como ameaça, não como “o mal em si” ou a “insuficiência do bem”, um inimigo valoroso;
  • a identidade entre espírito e matéria; um ateísmo com deus através da aceitação da experiência órfica;
  • a consciência da vida como devoração, da transformação inevitável de todas as coisas;
  • uma atenção especial destinada às crianças, como forças renovadoras; a totemização do tabu: a transformação das forças desfavoráveis (desconhecidas ou novas) em forças favoráveis;
  • a superação da visão de mundo messiânica.

 

     Estes critérios são diferentes daqueles que norteiam a sociedade norte-americana, cuja ética protestante apóia a moderna concepção de dignidade pelo trabalho. A concepção moderna de trabalho entende que o trabalho iguala todos os homens.

     Esta concepção sustentou o desenvolvimento de um homem cujo “caráter racional (consciente, metódico, sóbrio, desperto, vigilante, calmo, tranqüilo, constante e incansável) da ação instrumental agora transvalorada, interpretada em sua eficácia como sinal em si de que a bênção de deus está bem ali, no trabalho diurno e intramundano de crescente domínio técnico do mundo natural, ação racional com relação a fins que entretanto agora vale por si mesma, já que transfigurada semanticamente no registro do dever, da obediência, da conformidade a um mandamento exarado pelo deus todo-poderoso e todo-transcendente” (PIERUCCI. 2003, pg.205) – este é o protestante.

     Essa ética está ligada com o princípio norte americano de self-reliance, que entende que cada indivíduo tem controle absoluto de seu próprio destino, é livre e mestre de si mesmo.

     Para Oswald de Andrade (1992), “o engano do homem é esquematizar a sua própria natureza e criar necessariamente um conflito entre o que ele é (natureza) e o que deseja ser (esquema idealista da própria natureza)” (pg.276). Entre nós há um outro ideal de homem: o Homem Cordial, concepção que ele encontrou em Sérgio Buarque e desenvolveu a seu modo.

     O homem cordial não se apóia na autonomia radical, para ele, “a vida em sociedade é uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se em si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo cada vez mais à sua parcela social, periférica que no homem brasileiro – como bom americano – tende a ser o que mais importa. Ela é antes um viver nos outros” (ANDRADE. 1995 pg.158).

     Como alternativa ao homem auto-suficiente e polido, identificou Homem Cordial, descendente do antropófago, cuja afetividade não se submete à polidez e seus princípios universalizantes. A guerra contra a Holanda, no século XVII, pode ser entendida como uma guerra de potência mítica, uma luta entre o homem cordial, filho da Grande Mãe, contra o homem polido, filho de uma filosofia funcionalista apoiada na introspecção e na subjetividade forte, cujo estilo comunicativo é a coerção, cuja missão é a expansão da verdade revelada pelo Pai Todo Poderoso, “não se tratava somente de uma guerra tipo marxista entre o monopólio e livre comercio. Não se tratava de interesses dinásticos ou políticos. Tratava-se apenas da primeira luta titânica, no mundo moderno, entre o ócio e o negócio. E o ócio venceu!” (ANDRADE. 1992 pg.199).

     A idéia de igualdade através do trabalho se desenvolveu contra a diferença de classe que permitia a alguns poucos o direito ao ócio: os sacerdotes e os aristocratas.

     As raízes deste direito se estendem até os impérios despóticos salvacionistas, “nestas grandes metrópoles cosmopolitas, as camadas diferenciadas de intelectuais – quase sempre sacerdotes – acrescentam à cultura societária, já bipartida num patrimônio rural e outro citadino, um conteúdo novo, de caráter erudito, mais especulativo e já capaz de desenvolver um corpo de conhecimentos explícitos distinto do saber vulgar” (RIBEIRO. 2000 pg.82), que opera como uma força aliciadora, igualando as diferenças através da imposição da verdade divina da qual eram portadores.

     A idéia moderna de que “o trabalho dignifica o homem” se coloca conta este privilégio do ócio. Então, conquistado o direito ideológico à igualdade através do trabalho, o próximo passo é a superação da sociedade do negócio, e um direcionamento para a democratização do ócio.

     Esta concepção de trabalho, portanto, move-se dialeticamente em direção ao seu oposto, ao direito ao ócio a todos: “dialeticamente, por caminhos opostos, o que a humanidade tem procurado, seja pela apropriação direta dos bens da terra, seja pela amargurada e lenta marcha técnica e pela conquista desses bens através da luta de classes, o que ele deseja é não trabalhar. Ao contrário do que dizem as religiões do castigo e as cosmologias utilitárias” (OSWALD. 1992 pg.281).

     A vontade de democratização do ócio é o motor da concepção da dignidade através do trabalho. No entanto a Reforma Protestante relacionou o negócio relacionou a revolução do trabalho à doutrina da eleição, e o sucesso no negócio à benção concedida ao povo eleito. É assim que ele acredita que o cristianismo brasileiro, com característica inclusiva, pagã e ecumênica, pode ajudar a fazer frente à eleição capitalista do negócio: “o Brasil compusera-se de raças matriarcais que não estavam distantes das concepções libertárias de Platão e dos sonhos de Morus e de Campanella. Era o ócio em face do negócio. O ócio vencia a áspera e longa conquista flamenga, baseada no primeiro lucro e na ascensão inicial da burguesia. O Deus bíblico, cioso, branco e exclusivista era batido, no seu culto, reformado pela severidade e pelo arbítrio, por uma massa órfica, híbrida e mulata a quem a roupeta jesuítica dera as procissões fetichistas, as litanias doces como o açúcar pernambucano e os milagres prometidos” (ANDRADE. 1992 pg.194)..

     Estamos vendo a expansão de novas religiões que vendem, acima e antes de tudo, o sucesso nos negócios, e se colocam diretamente contra outras tradições religiosas. Um dos livros de divulgação de uma destas religiões, nascida no Brasil, escrito pelo bispo fundador, chega ao absurdo de dizer que o Brasil não vai para frente porque é dominado pelos demônios (!), demônios que movem as religiões afro-brasileiras, indígenas, católica (já que esta sincretizou-se com os demônios!), orientais (budismo, hinduísmo) e espiritismo. Diz ele, portanto, que é preciso expulsar os demônios para que o Brasil se desenvolva. E fundamenta o argumento lembrando o que para ele é óbvio: os países ricos são os países protestantes que expulsaram os demônios!

     A idéia absurda de que nossa cultura popular impede que o Brasil se desenvolva vem conquistando milhares de fiéis, e está nos discursos mais simplistas, como o deste bispo, até em discursos mais sofisticados, que a entendem como um entrave ao desenvolvimento.

     Portanto, não será nesta tradição religiosa que se verá a condição de desenvolvimento de uma idade do ócio, de um ócio democrático e socializado. O sucesso do modelo protestante norte-americano deve ser considerado do ponto de vista da adequação ao sistema capitalista, “temos que aceitar a superioridade inconteste do calvinismo baseado na desigualdade como alentador da técnica e do progresso. Mas, hoje, conquistados como estão os valores produzidos pela mecanização, chegou a hora de revisar e procurar novos horizontes” (ANDRADE. 1995 pg.165).

     Trata-se, portanto, de uma diferença filosófica, uma diferente aspiração social.

     As transformações da concepção de trabalho desenvolvidas na Europa coincidem com a descoberta das Américas e das sociedades indígenas, e propõe que foi a descoberta destas sociedades que inspirou as utopias que alimentaram o desenvolvimento da modernidade: “sem nós, a Europa não teria sequer sua pobre declaração dos direitos do homem” (ANDRADE. 1995 pg.48). Os índios teriam inspirado pensadores modernos, como Montaigne e Rousseau, e ainda as primeiras utopias que moveram a humanidade européia numa aspiração à vida indígena, portanto, “o caminho percorrido pelas Utopias renascentistas conduz a dois pontos altos – o ódio ao ócio, evidentemente ao ócio de classe que produziram as longas e pesadas desigualdades medievais; e a exaltação da comunhão dos bens. O ócio da selva coloca-se assim face aos ócios de privilégio” (ANDRADE. 1992 pg.176).

     A economia do haver é característica do desenvolvimento do patriarcado, este corresponde ao desenvolvimento histórico de acumulação e centralização do poder, seja material ou espiritual. A nova idade do ócio corresponderá a uma economia do ser em um matriarcado tecnológico. Ele acredita que o desenvolvimento tecnológico, que recebeu força da necessidade de acumulação patriarcal e de defesa dos bens acumulados, bem como da expansão e domínio necessários à manutenção o poder centralizador, poderá dialeticamente substituir o trabalho escravo, favorecendo um novo processo social. E, como o modelo patriarcal foi caracterizado pelo aumento de complexidade social e necessidade crescente de controle, a magia foi substituída pela persuasão ao ordinário, especialmente através da determinação moral. Portanto será significativo quando Oswald de Andrade propõe o humor “contra todas as catequeses”.

A consciência participativa

 

     O movimento dialético leva para o ócio e para uma religiosidade mais próxima da magia, do extraordinário - a superação do ordinário. Oawal repara que “em Pernambuco, foram as ladainhas que derrotaram a iluminação interior e a ascese” (ANDRADE. 1992, pg.198) dos holandeses protestantes, guerreiros temidos por toda Europa e vencidos aqui.

      Embora não trabalhe com a separação entre espírito e matéria, Oswald de Andrade  não se converte exatamente num materialista, mas num mágico que reconhece o sentimento órfico, sobre o qual é possível sustentar um ateísmo com Deus.

      Ele acredita que “o século XIX não estava preparado para o estudo do problema de Deus. Nele, Marx, Nietzsche e Freud, forças gigantescas para a chave dos problemas históricos e humanos, eram bebês de mama. (...) O que persiste no fundo é o sentimento do sagrado que se oculta no homem, preso ao instinto da vida e ao medo da morte” (pg.184).

     Reich (1977) também concorda com a existência do sentimento órfico, conhecido como sentimento oceânico, do qual Freud dizia ser um sentimento regressivo, de fuga, de retorno ao útero: “Freud era um intelectual. Ele acreditava no papel Todo-Poderoso da mente, isto é, do intelecto sobre as emoções (...). Mas tal atitude entrou em conflito com o rumo que tomaram os trabalhos sobre genitalidade, em que as emoções estão implicadas, a ‘corrente’, as emoções no corpo. Freud rejeitou a existência das chamadas ‘ozeanische Gefühle’. Não acreditava em tal coisa, nunca entendi bem porquê. É tão óbvio que as ‘ozeanische Gefühle’, a sensação de unidade entre indivíduo e a Primavera e Deus, ou o que as pessoas chamam de Deus, e a Natureza, é um elemento básico em todas as religiões, em todo o sentimento religioso, na medida em que não for doentio ou deturpado. Freud rejeitou isso, lamento dizê-lo, tive a sensação que ao dominar a sua própria vivacidade, a sua própria vivacidade biológica, ele tinha que se coarctar a si próprio, sublimar, viver de um modo que não gostava, renunciar” (REICH pg.93).

     A “consciência participativa” corresponde a uma compreensão do homem imerso na natureza, não numa natureza máquina, mas numa natureza cheia de forças, de invenções e de vontades, que o ato mágico é capaz de conquistar, mas jamais dominar. Esta idéia é diferente daquela de Freud (1996), que acredita que “estamos então preparados pra descobrir que o homem primitivo transpunha as condições estruturais de sua mente para o mundo externo; e podemos tentar inverter o processo e colocar de volta na mente humana aquilo que o animismo acredita ser a natureza das coisas” (pg. 115).

     Ao contrário disso, a idéia de uma consciência participativa dá um passo na direção da uma participação radical, que entende que as condições estruturais da mente não estão nem no mundo externo (fora), nem de volta para a mente humana (dentro).

     Oswald de Andrade (1995) acredita que, entre nós, brasileiros órficos, há uma tendência para a inclusão, que ele chama de vocação para a Alteridade, característica que herdamos da cultura antropófaga: “poder-se chamar de alteridade o sentimento do outro, isto é, de ver-se o outro em si, de constatar-se em si o desastre, a mortificação e a alegria do outro. A alteridade é no Brasil um dos sinais remanescentes da cultura matriarcal” (pg.157).

     Uma variação reichiana sobre a alteridade pode ser encontrada em Gaiarsa (1988), para quem existem pelo menos dois tipos de teoria psicológica: as exclusivas e as inclusivas. A exclusiva é “caracteristicamente analítica, redutiva, científica e lógica. Sua vantagem instintiva consiste em eliminar o mais poderoso inesperado do  mundo subjetivo: o outro” (pg.154), as teorias “inclusivas, são sintéticas, construtivas, com muito de intuição afetivamente condicionada, e uma capacidade grande de compreender (isto é, envolver, acolher) o indivíduo” (pg.154). As teorias exclusivas estão a serviço do controle e do medo, familiares ao messianismo; e as inclusivas estão a serviço da convivência e da amizade, frutos do amor - mais próximas da alteridade.

Do Tabu ao Totem

 

     Oswald de Andrade (1995) foi bastante influenciado por Freud, repara que “do mau acolhimento dado aos direitos do instinto submetidos que estavam às disposições disciplinares da Moral de Escravos passou-se a uma fase psicanalítica em que se procurou legalizar o homem natural que resistia, por meio das neuroses e estados de ficção, às injunções seculares do socratismo ocidental” (pg.142).

     No entanto, entende que Freud não conseguiu se libertar do patriarcado, embora tenha entendido profundamente o seu psiquismo, “evidentemente, o criador da psicanálise não deu atenção especial à revolução do patriarcado” (pg.144) e, por isso, entendeu a psique patriarcal como uma psique universal, com a qual compreendeu as operações primitivas, como a totêmica.

     Para Oswald, a totemização primitiva carrega uma intuição sábia, entende os conflitos do indivíduo não estão limitados ao drama íntimo e familiar, são entendidos como questões do corpo, da natureza, da comunidade e da cultura. É uma operação que tem um caráter mágico, pois corresponde à “consciência participante”.

     Não entende a instituição totêmica como característica de um desenvolvimento primitivo que naturalmente seria superado, como em Freud (1969), para quem há relação entre “as fases de desenvolvimento da visão humana do universo e as fases do desenvolvimento libidinal do indivíduo. À fase animista corresponderia a narcisista, tanto cronologicamente quanto em seu conteúdo; à fase religiosa corresponderia a fase de escolha de objeto, cuja característica é a ligação da criança com os pais; enquanto que a fase científica encontraria uma contrapartida exata na fase em que o indivíduo alcança a maturidade, renuncia ao princípio do prazer, ajusta-se à realidade e volta-se para o mundo externo em busca do objeto de seus desejos”(pg.113).

        Este paralelo do desenvolvimento histórico com o desenvolvimento individual mostra uma influência do positivismo no pensamento de Freud, característico do ambiente científico do seu tempo, que já não está presente no pensamento de Oswald.

        Freud desenvolve os fundamentos da psicanálise através da análise das culturas totêmicas primitivas e das suas instituições apoiadas no tabu. Propõe que as sociedades totêmicas e seus tabus correspondem a modos de resolver conflitos e ambigüidades, típicos do estado de consciência mais primitivo, como a criança e o neurótico: “a atitude emocional ambivalente, que até hoje caracteriza o complexo-pai em nossos filhos e com tanta freqüência persiste na vida adulta, parece estender-se ao animal totêmico em sua capacidade de substituto do pai” (pg.169).

        Equipara as soluções das culturas totêmicas aos processos neuróticos modernos, ambos valorizam excessivamente os atos psíquicos, como no caso da obsessiva que evita certos movimentos para evitar a morte do marido, exprimindo no mesmo ato seus sentimentos ambíguos: a vontade de matá-lo e a inibição. Freud (1969) acredita que “nem os tabus nem as proibições morais são psicologicamente supérfluos, mas, pelo contrário, explicam-se e justificam-se pela existência de uma atitude ambivalente para com o desejo de matar” (pg.92), por exemplo. Ele entende que “a base do tabu é uma ação proibida, para cuja realização existe forte inclinação do inconsciente” (pg. 52). Para Freud, o tabu corresponde a um desejo proibido, portanto ao desconhecido oculto, e os rituais ajudam a minimizar os conflitos decorrentes da ambivalência emocional.

     Para Oswald, as culturas totêmicas encontraram uma solução mais acertada do que, simplesmente, um modo de resolver conflitos e ambiguidades num estado primitivo que deveria, com o amadurecimento, ser vivido com mais consciência entre os indivíduos. Observa que a instituição totêmica tem a sabedoria de entender como problemas sociais os problemas afetivos particulares, ao atribuir a filiação ao Totem. Isso diminui o peso sobre os pais individuais, pois os conflitos deixam de ser exclusividade da esfera doméstica e são encarados explicitamente no seu caráter coletivo, hoje é possível dizer: político e cultural.

     Ele ainda sugere que o Tabu seja entendido não somente como o desconhecido que se oculta, mas como o desconhecido envolvido com a novidade.

     Freud trabalha sempre com a idéia de recalque e sublimação, é ela que faz a diferença com relação a Oswald de Andrade, que enfatiza mais a novidade e a invenção. O pensamento de Oswald é mais familiar ao de Reich, que também não aceita a concepção de cultura e sublimação proposta por Freud.

     Oswald (1995) observa que “a operação metafísica que se liga ao rito antropofágico é a da transformação do tabu em totem. Do valor oposto ao valor favorável. A vida é devoração pura. Nesse devorar que ameaça a cada minuto a existência humana, cabe ao homem totemizar o tabu. Que é o tabu senão o intocável, o limite?” (pg.101). O grande tabu, em última instância, é Deus: o limite máximo, o mistério, o inacessível e, por isso, o grande inimigo. O tabu pode ser entendido como um limite que exige uma solução, e não como uma proibição do erro e do engano através da adesão a uma verdade.

     Este processo abre mão da expectativa básica do messianismo: alcançar finalmente a estabilidade, a ordem, a permanência definitiva. A concepção de Deus como o inimigo impede a dissolução das posições, ao contrário: exige resistência, posição, atitude, comunicação.

     O principal tabu seria o tabu do incesto, que para Freud (1969) é constitutivo na mente humana, do qual emerge o sentido da Lei. Oswald está mais para Darcy Ribeiro (2000), para quem “as instituições do tabu do incesto e da exogamia, atuando como vinculadores de diversos grupos sociais, contribuíram para aglutiná-los em unidades tribais cooperativas ou, ao menos, não necessariamente hostis” (pg.40), nos primeiros agrupamentos humanos que apenas começavam o desenvolvimento da agricultura.

     A atribuição de filiação ao totem favorecia, através da exogamia, um tipo de percepção inclusiva. Não era, portanto, coercitiva e salvacionista.

O corpo como totem

 

     O messianismo trabalha com a idéia de implantar a verdade transcendental para corrigir os erros do corpo, numa condução em série dos movimentos. A idéia de que a vida é devoração, o­nde tudo está transformando, possibilita a emergência de ações alternativas à inibida, sem recorrer à substituição.

     Os processos biomecânicos estão comprometidos com uma inibição inevitável e indispensável para a manutenção contínua do equilíbrio, tanto do próprio sistema biomecânico quanto das forças do ambiente. Não pode ser confundido com o impedimento de um movimento e uma substituição motora ideal para a ação reprimida, como no messianismo. Este, sob forma do cristianismo e do racionalismo cartesiano, atribui a uma deliberação auto-suficiente do sujeito a responsabilidade por questões de equilíbrio, “a todo instante atribuímos aos afetos ou ao outro, a culpa de nos fazer cair ou a função de nos manter de pé ou vice versa” (GAIARSA. 1988 pg. 110).

     A cultura messiânica não elabora a ambiguidade, porque as forças proibidas não podem ser integradas, já que são associadas ao ímpio.

     Mas toda ação reprimida se transforma numa pré-disposição para aquela ação: para segurar um soco as pessoas apertam as mãos. Está comprometida com um sentimento de divisão: uma força do bem, que segura, e uma força do mal, que está pronta para agir.

     Os processos de equilíbrio do corpo, na medida em que assimilam as forças novas e ameaçadores transformando-as em impulso para a continuidade do movimento, fazem aceitar uma sabedoria criativa das forças da natureza e não do transcendente dono de todas as respostas e soluções.

     As forças auto-organizadoras da postura não expulsam, nem explicam e nem convertem o mal. Elas assimilam a força do desconhecido, transformando-o em força renovadora. O sistema de equilíbrio é devorador. Este processo pode ser entendido como um processo totêmico: o corpo como totem, capaz de transformar o desconhecido e a adversidade, que podem derrubar, em força favorável ao movimento renovador.

     A postura como totem, especialmente a atitude sustentada na postura.

     A forma do corpo como um totem vivo, comunicativo e mutante.

     É possível entender de um modo neo-reichiano o valor ético atribuído por Oswald de Andrade ao rito, mais do que à moral: Gaiarsa (1988) reparou que as posições rituais são todas simétricas. A simetria do corpo desfaz inclinações, tendências, intenções. Está ligada, portanto, aos símbolos de aceitação. A simetria contínua só pode ser obtida através da assimilação, nunca através da rejeição.

     Este é um princípio da weltanschauung antropofágica de Oswald de Andrade.

     A simetria perfeita só pode ser obtida momentaneamente em situações rituais, assim o rito renova o cotidiano através da experiência extraordinária. Não se trata de uma simetria atribuída a uma instância transcendental para sempre fixada. Mobilizado pela assimetria necessária ao movimento, o corpo descobre as condições de equilíbrio a cada instante.

     Isso é bastante diferente da expansão estadunidense contemporânea, que fixou inclinações, tendências e intenções numa assimetria concebida como “simetria perfeita” para reprodução em série, que só pode sustentar a eliminação do “eixo do mal” pelo “eixo do bem”.

     Importa ressaltar ainda que a possibilidade de desenvolvimento de respostas biomecânicas antropófagas criativas a favor da vida depende do desenvolvimento de uma boa educação somato-sensorial. Reich, inspirado nos Trobriandeses, já havia levantado a hipótese de que em sociedades o­nde as crianças recebem uma boa educação, sem maus tratos físicos e com boas condições lúdicas, são sociedades não violentas e sem as angústias causadas pelas instituições patriarcais.

     Oswald de Andrade também reparou na importância do desenvolvimento sexual na transformação cultural propõe “contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituição nem penitenciárias do matriarcado de Pindorama” (ANDRADE. 1995, pg.50) .

Parúsia aqui. E vingança aqui.

                          ANDRADE. 1992, pg.197

 

     Oswald de Andrade (1995) chama a atenção para o termo Parúsia: “um termo que julgo extremamente ligado às utopias. É o termo Parúsia – destinado a indicar a volta do Deus vingador para repor as coisas em seus eixos numa situação social errada” (pg.205). A idéia que carrega este termo é diferente das idéias otimistas, cujo processo só se justifica com vistas a um fim, o­nde, finalmente, os conflitos estariam resolvidos. Ele acredita que “o paganismo tupi e africano subsiste como religião natural na alma dos convertidos, de cujo substrato inconsciente faz parte o antigo direito de vingança na sociedade tribal tupi” (pg.17).

     A vingança aqui deve ser compreendida como uma estratégia diferente da idéia de derrotar ou o mal (o Diabo), assim como de suprir a insuficiência do bem (a ignorância), pela persuasão ou pela punição, características do patriarcado messiânico. Gaiarsa (1988) desenvolve uma idéia sobre a concepção do Messias que pode ser aproximada da concepção de Parúsia, quando compara o sistema de equilíbrio com o Messias, que renasce a cada instante para recolocar as coisas – o corpo - nos eixos.

     Então repara que “o problema com o Messias está mais na capacidade de responder a ele, e não em esperá-lo. Na verdade nem sequer responder é necessário; basta perceber o que acontece e seguir. Antes de começarmos a pensar numa situação nova já tomamos posição diante e dentro dela.(...) basta saber como estamos e logo saberemos o que pretendemos, qual a nossa intenção” (pg. 170). É preciso permitir que o Messias recoloque as coisas nos eixos, a cada passo, mas, para isso, é preciso aceitar que elas estão em movimento, em transformação.

     Para Oswald (1992), “o homem possui uma dimensão religiosa, ligada aos seus instintos e desenvolvida pelos seus reflexos. Dimensão essa que talvez constitua uma das bases do próprio marxismo ateu. A ausência do objeto Deus não priva de existir uma transferência de sentimentos profundos e intraduzíveis para o culto aos pró-homens” (pg.234). Morin (1995) desenvolve uma idéia afim, quando diz que “no seio da crueldade do mundo, e assumindo essa crueldade, as forças de união, de comunicação, de auto-eco-organização da vida, por muito fracas que sejam, foram capazes de se difundir nos oceanos, de se estender pelos continentes, de se lançar nos ares (...) O prosseguimento do esforço cósmico desesperado que, no humano, toma a forma de uma resistência à crueldade do mundo, é a isso que chamarei de esperança” (pg.230).

     A relação que faz destas forças com o sentimento de esperança é próxima daquela do Messias que recoloca as coisas nos eixos: a sociedade ou o corpo. Mesmo porque os eixos em torno dos quais as forças do corpo se organizam não são fixos e nem definitivos.

     As forças de agregação da postura e do movimento assumem a crueldade do mundo para resistir à destruição, o corpo precisa elaborar as forças que o afetam e ameaçam para permitir que o Messias renasça a cada instante, corrigindo os descompassos.

      O messianismo entende o homem como um ser incompleto, cuja falta o move em direção à completude, seja ela de verdade, de justiça, de beleza, enfim. Carrega a idéia de que o “pedaço” que falta está em algum lugar escondido, e pode ser descoberto com a ajuda de alguém que detém a chave para o acesso. Pode ser o sacerdote, o cientista, o filósofo ou o psicólogo, por exemplo.

     Mas fala do antropófago é: “só me interesso pelo que não é meu. Lei do homem. Lei do Antropófago” (ANDRADE. 1995 pg.47). Esse interesse não é mobilizado pelo sentimento de falta, já que não se trata de uma unidade a ser conquistada. Este homem não pretende combater o mal nem converter o ignorante, que são os maiores empecilhos para a completude. Mas vai exercer sua vingança, apropriando-se do poder do inimigo, que não é nada que lhe falta, mas que pode lhe fortalecer.

     Esta concepção de vingança se sustenta no sistema de equilíbrio, pois “sobre nossas qualidades mecânicas de equilíbrio instável (mas sempre ativo), se instala a astúcia das respostas vivas. Na luta, as boas atitudes se defesa são sempre, ao mesmo tempo, base para um ataque; a posição de proteger-se de golpes que vêm de fora se transforma, num instante, em base para um contra golpe. E a expressão ataque ou fuga (fight–or-flight) caracteriza esse fato” (GAIARSA. 1984 pg.117). Toda força exercida sobre o corpo provoca um movimento que a absorve, devolvendo-a, de um certo modo, ao mundo.

     Mas pode-se resistir àquilo que afeta o corpo de um modo messiânico, e entender essa força como uma força do mal que impede a perpetuação do esquema idealizado perpetuado na forma do corpo. Gaiarsa (1884) entende que, “como expressão sóciopsicológica da tenacidade automática de nosso parar de pé, e de nossa inconsciência com relação a este fato, sofremos do pior de todos os arcaísmos: a culpa é sua (ou você devia). (...) Como o erro é só seu, SÓ VOCÊ tem que fazer (ou desfazer) isto ou aquilo. Eu PERMANEÇO COMO ESTOU/SOU, meu EU permanece como está (é) – não me movo e não saio do lugar (mantenho a minha posição)” (pg.111).

     Este é um processo messiânico.

     Este movimento é característico de todas as religiões apoiadas na luta do bem contra o mal, num mal objetivado, exterior, com relação ao qual deve-se manter puro, e para tanto deve-se reproduzir modelos de comportamento universalmente válidos.

     As forças persuasivas da sociedade de consumo desempenham esse papel de reprodução em série, mesmo que esta série seja “o interesse pelo seu estilo”, trabalham com padrões de comportamentos/movimentos para serem consumidos e repetidos. São forças descontextualizadoras. Daí a importância da percepção da situação, que envolve uma história, mas não fixa o passado.

     A concepção de vingança desenvolvida por Oswald de Andrade não pode ser confundida com a vingança que Moisés lançou sobre o povo que conduzia pelo deserto, quando desceu do monte e os encontrou afastados de Jeová, e determinou aos que permaneciam fiéis a matarem com as próprias mãos, cada um seu próprio pai, irmãos e filhos infiéis, pela honra de Deus (MILES. 1997). É uma vingança exclusiva, que não aceita o contato com o ímpio.

     A ética da vingança de Oswald de Andrade (1995) enfatiza o direito de defesa e a compreensão, que “compreende a vida como devoração e a simboliza no rito antropofágico, que é comunhão” (pg.159).

O Sol e o corpo nas terras de Pindorama

 

     A crise da filosofia messiânica está relacionada com a crise da energia fóssil, carvão mineral e petróleo, que sustenta o movimento civilizatório contemporâneo. Esta crise energética tem duas causas, a escassez da fonte e o efeito nocivo sobre a ecologia, como o efeito estufa e a chuva ácida.

     Isso aponta para a necessidade de desenvolvimento de um novo sistema energético.

Uma destas alternativas energéticas limpas, ambientalmente, vem sendo desenvolvida com base em vegetai: a biomassa. A biomassa é a energia dos trópicos, porque é a energia do Sol. No Brasil, o reator energético que é o Sol trabalha continuamente.

     O Brasil é a terra da energia viva.

     Somos “filhos do Sol, Mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande” (ANDRADE. 1995, pg. 47).

     O problema da energia reforça a questão a respeito de estar no Brasil para ser brasileiro. A grande maioria dos intelectuais brasileiros não dá a devida importância para esta questão energética, que é a questão que move importantes acontecimentos do mundo hoje, como a invasão do Iraque e as ações difamatórias da grande mídia sobre a Venezuela, ambos entre os primeiros produtores de petróleo do mundo, por exemplo.

     Vasconcellos (2002) reparou que, “em repetidas conversas com os cientistas da escola da biomassa, um assunto vem sempre à tona: os motivos da cegueira dos intelectuais e das universidades em relação às causas e aos caminhos da superação do colapso energético-ecológico com o fim dos combustíveis fósseis e a biosfera ameaçada (...) Trata-se do terrível fenômeno, que envolve a percepção do tempo e do espaço, da alienação concernente à natureza em que se vive, e que afeta absolutamente todos” (pg.123).

     A crise energética do combustível fóssil e a alternativa da biomassa, oferecida pelos trópicos, reforçam a importância de se perceber em para o desenvolvimento do sentido de ser: estar no Brasil para ser brasileiro. Esta má localização compromete a produção intelectual comprometida com os paradigmas dos países do hemisfério norte e dos Estados Unidos. Importa, portanto, perceber as forças envolvidas na relação do nosso corpo com o nosso ambiente, a fim de favorecer que uma motricidade própria elabore uma cultura singular, tropical.

     A identificação psicomotora com a cultura da energia fóssil corresponde a uma alienação do espaço e do tempo, dificulta o desenvolvimento de uma boa localização e confunde nossa percepção. Vasconcellos (2002) diz que a filosofia da biomassa “é o encontro da razão com a natureza, as quais quase sempre estiveram dissociadas na cultura brasileira” (pg.109).

     Durante muito tempo, a filosofia desenvolvida no Brasil foi uma espécie de “filosofia de gabinete”, aprisionada nas leituras filosóficas oficiais e “obrigatórias”, portanto afastada das questões que emergiam nas ruas através dos conflitos culturais. Oswald de Andrade (1995) propõe, no manifesto da Poesia Pau Brasil: “contra o gabinetismo, a prática culta da Vida” (pg. 42), entendendo que a vida culta não equivale aos ideais exclusivos da civilização e sua estratégia persuasiva.

     A cultura da biomassa também pede o desenvolvimento de uma tecnologia própria, de uma tecnologia situada. A tecnologia da energia fóssil é tratada como um valor universal, assim como as demais construções do processo civilizatório. Este pedestal universal, no qual é colocada a tecnologia da energia fóssil, descamba para numa apologia da industrialização e para a idiotização do ethos rural. É preciso reverter este processo que faz da natureza tropical um tabu: um bem proibido ou não desejado.

     A transformação desse tabu em totem depende da percepção da relação entre corpo e ambiente e do comprometimento dessa relação na emergência cultural. A totemização do tabu, a natureza dos trópicos, será efetivada através do desenvolvimento tecnológico capaz de transformar suas forças adversas em força favorável. Trata-se, portanto, da tecnologia como totem!

     A universalização da tecnologia lembra Jesus e a Cruz.

     O culto cristão ao cristo crucificado.

     A Cruz, tecnologia universalizada que limita as possibilidades articulares e comunicativas do corpo e da vida: Jesus. Isso tem correspondência com a “didática da cruz. Por o­nde tudo começa entre nós. A geopolítica de Cristo: do velho mundo para o novo mundo (...) O povo brasileiro é impensável sem a cruz trazida pelos colonizadores, portanto é dentro da esfera cristocêntrica – e não fora dela – que se deve buscar a solução para o enigma da polis brasileira” (VASCONCELLOS. 2001 pg.53).

     Um Cristo despregado da cruz, capaz de se mover, é um cristo situado, capaz de colocar a cruz (a tecnologia) a favor da vida.

     O totem substitui o pai. O lugar do pai entre nós está ocupado pelo explorador do hemisfério norte que impõe seu falo fóssil sobre a terra mal percebida.  

     O retorno do primitivo tecnizado tem em vista a “energia –mãe, a biomassa vegetal é o útero úmido da terra, verde e ensolarada cuja recusa pelos brasileiros revela o mecanismo psicológico masoquista de origem colonial. O patriarcalismo oligárquico e misógeno – em vez do útero materno primordial – prefere cortejar o pênis fóssil importado, com sinais de impotência e infecundidade, enfim, uma energia de hidrocarbonetos que não é capaz de produzir o gozo, resultando daí uma triste grei de eunucos e histéricos. Essa é a conseqüência, no plano cultural, das resistências psicossexuais a energia da biomassa, que poderia ser o fruto amoroso da cópula entre o sol e a água doce dos trópicos, isto é, a medida da felicidade do povo brasileiro” (VASCONCELLOS. 2002 pg.127).

     É preciso que a tecnologia entre nós se desenvolva da relação com a Grande Mãe, e de uma razão situada descubra sua razão de ser. A tecnologia como totem, singularizada pela força de Eros (corpo) e da Grande Mãe (natureza).

     Portanto, a ênfase na mãe não implica numa simplificação ingênua e ideológica.

     O matriarcado tecnologizado responde por um processo pós-histórico, pós-patriarcal e pós-messiânico, com diversidade crescente de restrições e soluções e aumento de complexidade. Mesmo porque “o problema da mecanização do trabalho e o mito da máquina, muito antes de existirem como problema social, existiam como problema subjetivo, organizando e governando a maior parte das relações interpessoais e o funcionamento da sociedade” (GAIARSA. 1995 pg.174). Trata-se de uma noção de trabalho que se realiza continuamente no nosso sistema sensório-motor, transformando a natureza em atitudes, posições e cultura. Mesmo Marx reparou que “o trabalho é o pai, mas a mãe é a terra”.

     Caso pareça estranho relacionar a utopia da biomassa com o enforque reichiano “corporal”, vale lembrar que o desenvolvimento das utopias modernas está relacionado com o entusiasmo dos europeus descobridores com a natureza e com o corpo, inspirados na vida dos povos indígenas descobertos pelo colonizador, “as utopias são uma conseqüência da descoberta do Novo Mundo e, sobretudo, da descoberta do novo homem, do homem diferente encontrado nas terras da América” (ANDRADE. 1995 pg.163), um homem pelado que aceitava que era um corpo.

     O português que aqui chegou vinha da Europa inquisidora, cujas principais vítimas foram as mulheres, e desenvolveu com a máxima radicalidade a idéia de que o corpo é pecaminoso e o transcendente, a salvação. O seguinte trecho foi retirado de O Martelo das Feiticeiras, escrito pelos principais teóricos da inquisição, Heinrich Kramer e James Sprenger (2004), prefaciado pelo papa Inocêncio VII e publicado em 1484: “com relação ao encantamento dos seres humanos por meio de Íncubos e Súcubos, convém notar que tal pode ocorrer de três modos. Primeiro, como no caso das próprias bruxas, quando as mulheres se prostituem voluntariamente e se entregam aos Íncubos. Segundo, quando os homens mantém relações com Súcubos; embora não pareça que os homens forniquem com o mesmo grau de culpabilidade; porque, sendo intelectualmente mais fortes que as mulheres, são mais capazes de abominar tais atos” (pg.322).

     A inferioridade e a periculosidade das mulheres é desenvolvida sistematicamente ao longo do livro, como nesse outro trecho: “essa perfídia é mais encontrada entre as mulheres do que em homens, conforme nos ensina a experiência, para os ainda mais curiosos a respeito da razão desse fenômeno, acrescentamos o que já foi mencionado: por serem mais fracas de mente e de corpo, não surpreende que se entreguem com mais freqüência aos atos de bruxaria (...) a razão natural é que a mulher é muito mais carnal do que o homem, o que se evidencia pelas suas muitas abominações carnais ” (pg.116).

     Sua religião entendia que o mal deveria ser mais do que evitado, mas eliminado, pois “não há remédio contra tais práticas, a menos que os juizes erradiquem todas as bruxas ou, pelo menos, as castiguem como exemplo para todas as outras que, por ventura, desejem imitá-las” (pg.322). O que resultou disso é que milhares de mulheres foram assassinadas (a estimativa é em torno de cem mil), constituindo pelo menos 85% das execuções, como mostrou Rose Marie Muraro no prefácio da tradução para o português (2004). Foi essa visão anti corpo e anti mulher que chegou até nós através dos homens que viajavam nas caravelas.

     A demonização do corpo do povo brasileiro que prossegue até hoje, entendido como preguiçoso, luxuriento e ingovernável, favorece ideologicamente a apropriação dos nossos recursos energéticos pelo o colonialismo do século XXI.

     Por isso importa atrelar a energia dos trópicos à reforma agrária, através do apoio e do favorecimento da ocupação brasileira e descentralizada do território nacional, “a biomassa pode ser produzida na área rural com os dois recursos mais abundantes e estratégicos que temos: o homem desempregado e a terra improdutiva” (VASCONCELLOS. 2002 pg.15).

     Esta relação que vem sendo desenvolvida até aqui permite propor que faz parte do posicionamento reichiano apoiar os movimentos de trabalhadores rurais sem terra. Para entender a psique brasileira e favorecer a relação do trabalho clínico com as redes sociais, é importante perceber que “somos a utopia realizada, bem ou mal, em face do utilitarismo mercenário e mecânico do Norte. (...) O que precisamos é nos identificar e consolidar nossos perdidos contornos psíquicos, morais e históricos” (ANDRADE. 1995, pg.166).

     O corpo é comprometido com os processos naturais, culturais e sociais, através de relações dialéticas complexas. O sistema de equilíbrio do qual emerge as ações humanas é organizado em pares de partes e forças antagônicas, com possibilidade de combinações múltiplas e inusitadas, sintetiza continuamente o desequilíbrio provocado por cada contato, movimento e relação.

     A síntese nunca é definitiva, portanto nenhuma ideologia é suficiente, pois, a cada passo, novas exigências emergem. Nosso sistema biomecânico é gerador de utopias, movido para o futuro, o messias vingador que recoloca continuamente as coisas nos eixos. Pode-se compreender Oswald quando diz: “contra a memória fonte de costume. A experiência pessoal renovada” (ANDRADE. 1995 pg.51).  

A magia dos fios do corpo 

     Trata-se de uma utopia que concebe a possibilidade de um sistema social descentralizador, diferente da concepção centralizadora da moral sacerdotal. Lembra mais a concepção mágica ligada à tessitura de fios, bastante arcaica e relacionada com forças femininas.

     É bom lembrar que faz parte da recuperação da percepção mágica o caráter inventivo, criativo e tecnológico da ciência. A ciência como manipuladora de forças, e não como porta-voz de verdades. A percepção mágica da metáfora da trama e dos fios se aproxima muito da concepção de corpo como rede móvel de vetores de força: “os milhares de tensores musculares envolvidos nos movimentos dos músculos funcionam como um tear que tecem as forças do mundo ou forças do corpo” (GAIARSA. 1988 pg.227).  

     A idéia de corpo como trama de forças ligadas à tessitura do mundo ajuda a compreender um sistema que não seja organizado através da hierarquia forte, do movimento persuasivo e exemplar. Heráclito já dizia que “é cansativo servir e obedecer aos mesmos senhores” (fgto.84). Trata-se da consciência da participação, atenta às soluções cooperativas e emergentes, através da comunicação e da alteridade, contra a submissão a uma dominação sacerdotal.

     A trama evoca uma questão espacial, diz respeito à localização: o­nde começa um movimento? Heráclito diz que “assim como a aranha, instalada no centro de sua teia, sente quando uma mosca rompe algum fio da teia e por isso corre rapidamente, quase aflita pelo rompimento do fio, assim alma do homem, ferida alguma parte do corpo, apressadamente acode, quase indignada pela lesão do corpo, ao qual está ligada firme e harmoniosamente” (fgto.67).

     As forças musculares que organizam, sustentam e movem o corpo podem ser entendidas como uma teia feita de vetores de força: “a mais perfeita representação gráfica do termo ‘sentido’ que eu conheço é o vetor. Das imagens concretas, a mais bela é a flecha, da qual deriva o vetor. A mais abstrata representação de ‘sentido’, creio que se liga à sensação de um tensor muscular ou à resultante – virtual, mas atuante – de um conjunto deles. Creio, ademais, que em ausência dessa sensação não nos é dado pensar um significado” (GAIARSA. 1988 pg.43).

     Pode-se imaginar uma teia corpo-cultura tecida por estes vetores de força, uma teia móvel, o­nde o sentido é continuamente mantido e transformado, e cada um de nós sintetiza de algum modo singular estas forças, mobilizando-as.

     As questões aqui levantadas tratam da necessidade de nos percebermos, brasileiros reichianos, a partir da nossa posição original dentro da rede da natureza e da cultura humana. Uma posição que favoreça o desenvolvimento das utopias levantadas por Reich, tão familiares as que Oswald de Andrade identificou entre nós. Sustentam a esperança na superação do capitalismo e da exploração do corpo do outro na direção de uma nova sociedade, mais fraterna e complexa: o matriarcado de Pindorama. 

     Oswald de Andrade (1992) disse (em 1945!) que “a antropofagia ainda balbucia, mas propõe-se a depor no tumulto dramático de hoje. Ela leva às suas conclusões o que há de vivo no existencialismo e no marxismo. De um velho caderno que tem cerca de vinte anos tiro a seguinte: pela primeira vez o homem do equador vai falar!” (pg.105).  


 


 

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